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Quando a maré não está para peixe

Atualizado: 5 de nov. de 2021

Autores: Yonara Garcia, Mariana Haueisen, Raphaela A. Duarte Silveira, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró



Em março de 2019, uma mancha avermelhada surgiu no mar, na região de São Sebastião, litoral norte de São Paulo, Brasil, próximo ao Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (CEBIMar/USP). Ao analisar amostras de água da superfície, os pesquisadores verificaram grandes concentrações de algas planctônicas, sendo estas potencialmente tóxicas. O que estava ocorrendo nesta região era um fenômeno denominado maré vermelha.

Mas o que é exatamente este fenômeno?


A imagem apresenta uma mancha com cor diferente da água do mar, com tom avermelhado, no canal de São Sebastião, São Paulo. O canto inferior da imagem mostra a região costeira do canal com agregados de rochas.

Floração de microalgas, também conhecida como maré vermelha, na região de São Sebastião, litoral norte de São Paulo. Esta mancha avermelhada foi registrada no dia 14 de março de 2019, por meio de imagens aéreas obtidas com um drone. Foto: Alvaro Migotto/CEBIMar ©



A maré vermelha é o nome comum dado a um fenômeno natural conhecido como Florações de Algas Nocivas (FANs), internacionalmente designadas como Harmful Algal Blooms (HABs). Estas florações ocorrem quando algumas espécies do fitoplâncton crescem descontroladamente, podendo resultar, muitas vezes, na coloração visível da água. Devido aos pigmentos das algas, a água pode ficar vermelha, verde ou marrom.



O QUE CAUSA A MARÉ VERMELHA?


O fitoplâncton é um componente essencial para a vida dos oceanos, sendo extremamente importante na cadeia alimentar. Mas em condições favoráveis ao seu crescimento, como luminosidade e boa disponibilidade de nutrientes, essas algas, principalmente dinoflagelados, podem se reproduzir com uma velocidade acelerada, resultando no fenômeno da maré vermelha.



QUAIS IMPACTOS QUE ESTE FENÔMENO CAUSA?


Algumas marés vermelhas são causadas por algas planctônicas extremamente prejudiciais e tóxicas para os seres humanos e para os animais marinhos quando estão em altas concentrações. Entre estas algas nocivas podemos citar o Alexandrium spp., o Pyrodinium spp. e o Gymnodinium spp., que produzem uma variedade de neurotoxinas coletivamente referidas como saxitoxina. As saxitoxinas são consideradas, atualmente, as mais poderosas toxinas marinhas e, provavelmente, estão entre as substâncias mais perigosas do planeta.

Desta forma, este fenômeno pode trazer como consequência a mortalidade de diversas espécies marinhas e costeiras. Além disso, causa graves efeitos nas atividades pesqueiras, de saúde pública (tanto pelo contato com a água contaminada, quanto pelo consumo de mariscos, que são organismos filtradores e podem conter altas concentrações da toxina), de recreação e turismo.

Nas amostras analisadas provenientes do fenômeno que ocorreu em São Sebastião foram encontrados, principalmente, os dinoflagelados dos gêneros Alexandrium, Dinophysis e Margalefidinium. Este último gênero atingiu densidades suficientes, no segundo dia do evento, para gerar uma potencial toxicidade para os organismos marinhos, como representantes do plâncton e peixes. De acordo com os pesquisadores, as análises sugerem que o aporte de nutrientes de águas provenientes de rios tenha sido a causa da proliferação da espécie no canal de São Sebastião.


Imagem obtida com miscroscópio óptico, mostrando dinoflagelados do gênero Margalefidinium. Diversas células microscópicas ovaladas.

No evento que ocorreu em março de 2019, em São Sebastião-SP, foram encontrados, principalmente, os dinoflagelados dos gêneros Alexandrium, Dinophysis e Margalefidinium (foto), sendo este último predominante no segundo dia do evento. Foto: Alvaro Migotto/CEBIMar ©



COMO EVITAR A PROLIFERAÇÃO DESSAS ALGAS?


Apesar desse evento ser um fenômeno natural, com inúmeros registros ao longo da história, a intensidade, duração e distribuição geográfica têm apresentado um certo acréscimo devido aos impactos das ações do homem. As mudanças climáticas, a poluição das águas costeiras, fertilizantes agrícolas e paisagísticos que caem em cursos d’água, falta de saneamento básico, entre outros, estão ligados à maior recorrência das marés vermelhas.

Para evitar essas florações, são necessários esforços conjuntos da comunidade e das instituições públicas responsáveis pela qualidade ambiental, para minimizar o excesso de nutrientes lançados nestas áreas. Além disso, é importante que haja maior monitoramento das regiões costeiras para detecção destas florações, a fim de alertar a população dos possíveis riscos do consumo de peixes e frutos do mar provenientes destes locais na presença do evento, além de banho e atividades aquáticas.



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Bibliografia


DE CASTRO, Nathália Oliveira; DE OLIVEIRA MOSER, Gleyci A. Florações de algas nocivas e seus efeitos ambientais. Oecologia Australis, v. 16, n. 2, p. 235-264, 2012.


LALLI, Carol; PARSONS, Timothy R. Biological Oceanography: an Introduction. Elsevier, 1997.


Marés Vermelhas no canal de São Sebastião. CEBIMar, 2019. Disponível em: <http://noticias.cebimar.usp.br/divulgacao-cientifica/artigos-de-colaboradores-do-cebimar/1756-mares-vermelhas-no-canal-de-sao-sebastiao>. Acesso em: 20 mai. 2019.


What Exactly Is a Red Tide? Smithsonian Ocean, 2018. Disponível em: <https://ocean.si.edu/ocean-life/plants-algae/what-exactly-red-tide> Acesso em: 20 mai. 2019.



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