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Predadores máximos do oceano: como vivem as orcas?

Atualizado: 22 de out. de 2022

Autores: Lucas Garcia Martins, Raphaela A. Duarte Silveira, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró



Com seu padrão de cores marcantes e característica cosmopolita – ocorrência em todos os oceanos – a orca, Orcinus orca, também conhecida como 'baleia-assassina', é um dos cetáceos mais fáceis de se reconhecer por conta de seu padrão único de cores.


Foto de duas orcas saltando do oceano, lado a lado. O corpo delas é preto, com o ventre branco e manchas brancas nas laterais da cabeça.

Orcas saltando da água, onde podemos observar o padrão inconfundível de cores desses animais. Fonte: Robin Agarwal/Flickr (CC BY-NC 2.0)



Embora por vezes chamada de baleia, na verdade as orcas são grandes golfinhos pois, além de estarem dentro da superfamília Odontoceti, são os maiores representantes da família Delphinidae. Elas podem atingir comprimentos máximos de corpo de 9,0 m nos machos e 7,7 m nas fêmeas. Os pesos máximos medidos são 6.600 kg para um macho e 4.700 kg para uma fêmea.


Atualmente elas representam uma única espécie. Entretanto, muitos estudos genéticos e taxonômicos sugerem que existam mais espécies do gênero Orcinus. Por ora, elas são consideradas apenas ecótipos diferentes – animais da mesma espécie com variações em características morfológicas e comportamentais de acordo com ambiente em que vivem.


Ilustração que mostra os tipos de ecótipos encontrados em orcas indicados por setas. A seta A indica orcas pretas dorsalmente com manchas oculares de tamanho médio a seta B mostra uma orca preta dorsalmente mas com tom amarelado ao longo do dorso e ventre, a mancha ocular é grande e ao lado outra orca preta dorsalmente e branca ventralmente com grande mancha ocular. A seta C indica orcas de cabeça mais arredondadas que as demais com o corpo podendo ser preto dorsalmente e branco ventralmente ou preto e amarelo dorsalmente e amarelado ventralmente. A mancha ocular é uma elipse fina no sentido diagonal. A seta D indicaorcas com cabeça arredondada e nadadeira dorsal proeminente, a mancha ocular é bastante pequena e em elipse no sentido horizontal.

Ecótipos de orcas encontrados ao redor do mundo baseados no padrão de cores e formato das manchas oculares e formato da cabeça. Fonte: Modificado de Albino.orca/Wikipedia (CC BY-SA 3.0).



UM OCEANO É POUCO PARA ELAS!


Além disso, sabia que as orcas são os animais de maior distribuição na Terra depois dos seres humanos e do gado? Sim, elas podem ser encontradas nos oceanos Pacífico, Atlântico, Índico, Antártico e Ártico.


Apesar de sua presença em todos os oceanos, os estudos indicam que as orcas se concentram principalmente em águas temperadas costeiras por conta da alta produtividade nesses locais, ou seja, muito alimento para que possam manter a sua grande reserva de gordura. As maiores densidades desses animais ocorrem nas águas ao longo da costa noroeste da América do Norte e das Ilhas Aleutas, ao longo da costa do norte da Noruega e nas latitudes mais altas do Oceano Antártico. Os estudos atuais estimam que existam cerca de 50 mil orcas nos oceanos. Contudo, sabe-se que esse número é bem maior, mas ainda não é possível cobrir grandes áreas oceânicas e por este animal estar tão distribuído é muito difícil expressar estatisticamente quantos indivíduos existem dispersos.



ORCAS FANTÁSTICAS E COMO VIVEM


As orcas são os maiores predadores dos oceanos. Elas estão acima, até mesmo, dos temerosos tubarões brancos, que por vezes são presas das orcas. Os pesquisadores de mamíferos marinhos e elasmobrânquios atestam que os tubarões brancos costumam evitar as áreas de ocorrência de orcas. Por que será? As orcas são uma obra prima da natureza em se tratando de engenharia biológica. Elas são muito grandes e muitos velozes; além disso, o que as coloca no topo da cadeia alimentar é a sua inteligência e comunicação. Orcas são animais sociais e que vivem em família, o que torna cada grupo de orcas extremamente perigoso para suas presas.


FALANDO EM PRESAS, O QUE ELAS COMEM?


As orcas são animais generalistas, ou seja, se alimentam desde invertebrados, como lulas e polvos, até grandes vertebrados, como tartarugas e baleias. Já foram identificados 140 animais como possíveis presas das orcas e não para por aí. Eles são os únicos cetáceos que predam rotineiramente outros grandes mamíferos marinhos, sendo 50 espécies listadas como possíveis presas, como leões marinhos ou focas e até grandes baleias e outros golfinhos. É claro, elas comem peixes também, principalmente salmão, arenque, bacalhau, atum, raias e tubarões.



Foto de uma orca em meio a calotas de gelo e projetando-se para fora da água sobre uma foca que estava em uma das calotas.

Orca atacando uma foca de Weddel no mar de Weddel, Antártica. Fonte: Robert Pitman/Wikipedia (CC0).



Embora a orca seja um predador generalista em escala global, populações locais podem exibir notáveis especializações de caça. São conhecidos dois ecótipos comuns encontrados nas águas costeiras do nordeste do Pacífico que preferem se alimentar de peixes. Estudos e análises observacionais do estômago e conteúdo das carcaças fundidas na praia mostraram que o salmão é o presa principal das orcas residentes e que eles buscam seletivamente as espécies maiores ou mais gordas disponíveis. Na Noruega, um estudo indicou que as orcas se especializaram na caça de arenque: o grupo cerca o cardume e desferem golpes com as caudas para atordoar os peixes, Cada ataque consegue abater de 6 a 12 arenques.


É importante destacar que, apesar de orcas ocuparem o topo da 'realeza' dos oceanos, como todos os animais elas também possuem ameaças, como a diminuição dos leões marinhos e focas causados pela diminuição dos peixes pela sobrepesca ou mesmo as formas de contaminação por metais tóxicos ou microplásticos, mas ainda pouco se sabe sobre os impactos neste animal e a IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza) não possui dados suficientes para verificar seu status de conservação.


Ainda há muito o que conhecer sobre esse animal em relação a reprodução, dinâmica populacional, ecologia, genética, interações, comunicações e aspectos da biologia geral das orcas. Seria você um dos próximos pesquisadores a descobrir mais sobre esses animais fascinantes?



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Bibliografia


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