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Esconde-esconde no fundo do mar

Atualizado: 4 de fev. de 2021

Autores: Gabriela Mittelzifen, Mariana P. Haueisen, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró



VOCÊ CONSEGUE ME VER?


Foto de um peixe linguado camuflado com a areia.

Peixe linguado com coloração semelhante à da areia, camuflado com o solo, possui o hábito de permanecer próximo ao substrato. Fonte: nHobgood (Nick Hobgood)/Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0).



Provavelmente, você pode ter tido alguma dificuldade de encontrar o animal na imagem. Isso acontece devido ao mecanismo de camuflagem utilizado por muitos organismos, sendo eles terrestres ou aquáticos.


A camuflagem é um recurso de extrema importância e selecionado ao longo de várias gerações, que facilitou os animais se esconderem de predadores, isto é, como um mecanismo de defesa, anti-predatório, ou mesmo em predadores para não ser ser detectados por suas presas. Existe uma interação entre o hábitat do organismo e o indivíduo camuflado, fazendo com que se misture ao ambiente.


Existem dois tipos de camuflagem, a homocromia, em que a cor do organismo imita a cor do ambiente, sendo confundidos, como exemplos o peixe linguado e o peixe pedra; e a homotipia, em que o indivíduo se aparenta morfologicamente com elementos do meio, pode ser observada no cavalo-marinho, o qual imita folhagens submarinas enroscando sua cauda em algas pardas e suavemente acompanha a movimentação da algas se balançando, auxiliando sua ocultação. Na homocromia, ainda há a possibilidade de mudança de coloração para animais que possuem células especializadas capazes de sintetizar e armazenar pigmentos, chamadas de cromatóforos, presente nos polvos, lulas e sépias.


O ambiente marinho apresenta uma menor luminosidade em relação ao terrestre. Isso ocorre devido à diferença do índice de refração (velocidade com que a luz se propaga em diferentes meios) da água e do ar. A intensidade luminosa exerce uma grande função no processo de camuflagem para os organismos marinhos, uma vez que, diante de uma menor luminosidade e falta de visibilidade em consequência da turbidez da água, os detalhes são visualizados com uma maior dificuldade.


O tipo de camuflagem que se relaciona diretamente com a luminosidade do ambiente pode ser observada em diversos peixes, em que a parte dorsal (superior) apresenta uma coloração mais escura e a parte ventral (inferior), mais clara. Esse mecanismo de camuflagem tem seu funcionamento de maneira que os animais, quando vistos de cima, conseguem se camuflar com a parte escura do mar. Já quando vistos por baixo, a coloração do ventre mistura-se com a claridade da superfície. Os principais exemplos são os tubarões.



Tubarões fotografados de um ângulo em que é possível observar suas colorações dorsal e ventral.

Imagem da vista ventral-lateral de dois tubarões nadando, onde é possível observar o padrão da coloração mais escura no dorso e mais clara no ventre. Fonte: Adrian Smith/Unsplash.



Outro grupo marinho que utiliza o mecanismo de camuflagem são os Cephalopoda, tendo como um de seus representantes, o polvo. Esses animais apresentam uma grande relevância na cadeia alimentar, sendo predados por uma variedade de organismos. Consequentemente, os cefalópodes evoluíram de maneira a se protegerem de tantos predadores, camuflagem que exercem com maestria.


Essa classe de animais é portadora das células especializadas citadas anteriormente, os cromatóforos. Para que ocorra a mudança de coloração corporal, é necessário enviar estímulos, sendo eles visuais, sonoros ou movimentos da água, ao sistema nervoso central, que processa e conduz a uma mudança no padrão dos cromatóforos.


A camuflagem não depende apenas do padrão de coloração, mas também do comportamento do animal, sendo necessário ter um controle da orientação corporal, para não deixar nenhuma parte exposta, fazendo com que cada vez mais o organismo esteja inserido no local escolhido para se ocultar.



No primeiro plano da foto é possível observar um polvo se camuflando com um coral.

Polvo repousado sobre corais, sendo suas colorações semelhantes, desse modo, passando despercebido. Fonte: Vlad Tchompalov/Unsplash.



Não são apenas organismos grandes que utilizam do mecanismo da camuflagem para se ocultar no ambiente. Grande parte do zooplâncton, organismos que vivem na coluna d’água, também utilizam o mecanismo da camuflagem para se protegerem de predadores, uma vez que possuem uma capacidade de locomoção limitada.

A camuflagem desses organismos é extremamente peculiar, já que muitos são desprovidos de coloração, isto é, são seres quase transparentes. Esse tipo de camuflagem pode ser comprometida devido à presença de coloração nos órgãos, como por exemplo os olhos. Devido a isso, alguns animais ainda possuem um sistema anti-reflexo para que desapareçam da vista de presas e predadores. Um exemplo encontrado em grande número no ambiente marinho são os krills, pequenos crustáceos.



Fotografia. Em um fundo preto, há um Krill em vista lateral, realçando sua transparência corporal e a presença de coloração em alguns órgãos internos.

Imagem de um krill, em que é possível observar a ausência de em algumas partes do corpo. Fonte: Uwe Kils/Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0).



Em síntese, a camuflagem tem um papel de extrema importância na sobrevivência de diversos os organismos, uma vez que é uma estratégia anti-predatória comumente utilizada. Como visto, esse mecanismo está presente nos mais diversos organismos e de diferentes tamanhos. Todos esses mecanismos dificultam a visualização destes animais e em muitas situações contribuem para sua sobrevivência em momentos de vulnerabilidade.




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Bibliografia

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STEVENS, Martin et al, (ed.). Animal Camouflage: Mechanisms and Function. [S. l.]: Cambridge University Press, 2011. 376 p.




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