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Peixe-leão: belo e perigoso!

Atualizado: 6 de ago. de 2021

Autores: Arthur Germano, Julia R. Salmazo, Thais R. Semprebom, Rodrigo Ilho, Juliane Silberschmidt e Douglas F. Peiró


Foto de um peixe-leão de coloração azulada com várias listras ao longo do corpo.

Peixe-leão (Pterois volitans). Fonte: Mishelved/Pixabay (Domínio Público).



O peixe-leão (Pterois volitans) é um animal muito procurado por aquaristas do mundo todo pela sua beleza e aparência extravagante. Originalmente nativo dos oceanos Índico e Pacífico, ele tem sido avistado em boa parte do oceano Atlântico nos últimos anos, o que causa preocupação aos ambientalistas, pois se trata de uma espécie invasora.


Espécies invasoras são aquelas que não pertencem à fauna ou à flora de um determinado local, mas acabaram sendo introduzidas no novo ambiente (por ação humana ou natural), o que geralmente provoca desequilíbrio ecológico. Alguns exemplos desse fenômeno são os dos corais-sol (Tubastraea spp.), que apareceram pela primeira vez no Brasil na década de 80, “pegando carona” incrustados em navios e agora ocorrem nos litorais do RJ e SP, onde competem por alimento e luz com corais nativos. Outro exemplo conhecido é o siri bidu (Charybdis hellerii), originário dos oceanos Índico e Pacífico e, assim como o coral-sol, também foi trazido por navios e se estabeleceu na região da Bahia, onde prejudica a atividade pesqueira, pois se alimenta de diversos outros organismos, inclusive peixes e outros animais de valor comercial.


E com o peixe-leão não foi diferente. Não se sabe ao certo como ele veio parar no oceano Atlântico, mas acredita-se que ele possa ter sido introduzido por ação humana, por meio da soltura desses animais por aquaristas em um novo ambiente.


Peixes-leão são predadores vorazes e podem se reproduzir rapidamente. Mas, em seu ambiente natural, sua população é estável, pois eles também servem de alimento para predadores maiores, como tubarões. O problema é que, no oceano Atlântico, ele não é reconhecido como uma presa em potencial por outros organismos; isso, associado a sua rápida reprodução, faz com que o crescimento das suas populações seja alarmante, causando desequilíbrio nas cadeias alimentares de recifes de coral.


Imagem de um peixe-leão de coloração laranja-amarronzada com várias listras ao longo do corpo.

O peixe-leão se alimenta de qualquer animal que caiba em sua boca: peixes, crustáceos, moluscos etc. Fonte: Hans/Pixabay (Domínio Público).



POR QUE ELE CAUSA DESEQUILÍBRIO?


Avistamentos desse peixe já foram documentados em lugares como na costa leste dos Estados Unidos, México, Caribe e, recentemente, no Brasil, na região de Arraial do Cabo (RJ). O seu apetite voraz pode se tornar um problema no setor pesqueiro, uma vez que ele compete por alimento com outros animais, alguns deles de valor comercial, como lagostas, peixes, caranguejos, lulas, entre outros animais que se alimentam das mesmas presas que o peixe-leão.


Pelo fato de não ser um peixe nativo, os animais dos quais o peixe-leão se alimenta nas áreas introduzidas não o reconhecem como uma ameaça e, por isso, não apresentam comportamento de fuga. Pelo contrário, as potenciais presas se reúnem ao redor do peixe, utilizando suas grandes nadadeiras como um abrigo contra predadores. Ao se aproximarem, o peixe-leão os engole rapidamente, se alimentando de qualquer coisa que caiba em sua boca. Os peixes-leão possuem ainda um estômago muito elástico, aumentando a necessidade de busca de alimento para atingir a saciedade. Além de ser um caçador eficiente, ele pode sobreviver em diversas condições nas quais outros animais não suportariam. Também é resistente a doenças e tem um ciclo reprodutivo muito rápido. Essa competição “desleal” faz com que haja escassez de recursos para manter uma cadeia alimentar equilibrada, afetando todos os seus níveis, já que o peixe-leão pode se alimentar, por exemplo, de animais que realizam manutenção e limpeza em recifes de coral.


Um exemplo de populações em diminuição devido à presença do peixe-leão é a dos peixes e camarões “dentistas”, que se alimentam de detritos existentes na boca de peixes maiores. Com o peixe-leão, os “dentistas” perdem sua função, uma vez que assim que esses pequenos limpadores se aproximam, o peixe-leão os devora rapidamente. O declínio populacional dessas espécies pode gerar grande impacto para outros peixes maiores, incluindo o estabelecimento de doenças e infecções relacionadas.



E PARA OS HUMANOS, ELE PODE SER PERIGOSO?


Além de causar desequilíbrio ambiental no Atlântico, o peixe-leão possui espinhos venenosos, usados para defesa contra predadores. Esses espinhos, ao perfurarem a pele, podem causar muita dor e irritação local. O veneno não é letal para seres humanos mas, mesmo assim, vale lembrar que é muito importante que se procure ajuda médica em caso de acidentes, para evitar o risco de uma reação alérgica ou infecção local.



Imagem de um peixe-leão vista de cima, mostrando os seus espinhos e a sua coloração branca, laranja e preta.

Quando ameaçado, o peixe levanta seus espinhos para parecer maior e intimidar os predadores. Fonte: joakant/Pixabay (Domínio Público).



Vale lembrar que, apesar de o peixe-leão possuir espinhos venenosos, sua carne é segura para consumo. Nos Estados Unidos, a caça desses animais já é permitida, inclusive havendo competições de pesca de peixes-leão, com objetivo de auxiliar no controle populacional da espécie. Essa atividade acaba sendo benéfica pelo ponto de vista econômico, uma vez que a caça regularizada do peixe promove a venda de materiais próprios para tal atividade, além de existirem cursos para uma caça responsável e segura. Os animais capturados podem, ainda, ser vendidos para restaurantes.


Além disso, traz vantagens no ponto de vista ecológico, pois reduz a pesca excessiva de outras espécies nativas, permitindo que as mesmas possam ter um melhor ciclo reprodutivo, regulando, assim, suas populações.



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Bibliografia


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